53-OS ACRÉSCIMOS DA BÍBLIA-PART.01

15/06/2013 23:07

 


 

Os acréscimos da biblia -Parte I

 

"Como, pois, dizeis: Nós somos sábios, e a lei do SENHOR está conosco? Eis que em vão tem trabalhado a falsa pena dos escribas" Jeremias 8,8

 

Livro de Hermam Bart


Ainda que muitos religiosos não concordem, a bibia possui sim acréscimos e textos que não existem nos manuscritos originais. Mesmo certos textos que aparecem em alguns manuscritos, basta uma analise mais critica e histórica, que percebemos que são acréscimos posteriores feito por copistas. Comentaristas não sabem se alguns destes acréscimos foi devido ao sincretismo que Constantino queria fazer com os messias solares do mundo antigo ou talvez simplismente licença poetica. Não se tem certeza absoluta também de que tais acréscimos não sejam autênticos, sendo que nos primeiros séculos muita coisa era transmitida por tradição oral. Recomenda-se que o leitor analise a critica textual, o estilo literario e os demais livros da biblia, pois um dos primeiros principios de Hermeneutica e interpretação biblica, exegese, é que a biblia se explica por sí só e um livro da biblia, sendo a palavra de Deus, não pode entrar em contradição com outro livro; "pois Deus não é homem para que minta e nem filho do homem para que se arrependa" (Nm 23,19)

A maioria dos céticos e ateus utilizam-se justamente destas contradições geradas por acréscimos para tentar invalidar a palavra de Deus. Irônicamente a maioria dos religiosos e pregadores em geral negam tais acréscimos e mesmo erros de traduções, ignorando o fato de que Deus não é Deus de confusão. Muitas discussões de teologos e pregadores em geral sobre dogmas importantes da cristandade, muitas vezes utilizam-se de passagens ou versiculos da biblia, para reforçarem seus argumentos, sendo que alguns muitas vezes, não estão coerente com relação a tradução original ou não existem, simplismente foram acrescidos ou adulterados por padres para validarem suas interpretações teologicas.

O objetivo de exibir certas passagens não é desacreditar das mesmas e nem da palavra de Deus, mas expôr a verdade. Que o leitor tenha um bom discernimento e saiba analisar textualmente tais passagens, pois não podemos afirmar com certeza se são originais ou não. A palavra de Deus é a verdade e nossa fé tem que ter uma base lógica fundamentada na verdade. Não podemos descartar que tais passagens possam ser realmente originais, mas recomenda-se não utiliza-las em estudos mais profundos que possam comprometer a salvação de alguém, pois também não podemos afirmar que sejam autênticas ou criadas por padres, sendo que a maioria não consta nos originais dos manuscritos gregos. 

Recomenda-se a todo exegeta ou hermeneuta, antes de se fazer qualquer estudo biblico, se fazer um estudo da biblia. Algumas biblias voltadas para estudo possuem um bom rodapé mencionando o que consta nos originais ou não. Nesta postagem utilizo alguns comentarios de três versões biblicas, a biblia de Jerusalém, a biblia de estudos de Genebra e versão peshitta do aramaico, ainda que as três discordem em alguns pontos, mas é bom para o leitor conhecer explicações diferentes de comentaristas e historiadores. Recomenda-se também livros sobre o tema como "O que Jesus disse e o que Jesus não disse" de Hermam Bart, uma excelente analise critica textual e histórica além de outros livros que mencionam certos acréscimos e erros de traduções.Vamos expôr e analisar algumas passagens contextadas e ausentes nos manuscritos:

A MULHER ADULTERA

Do capitulo 7 a partir do versiculo 53, até o capitulo 8 versiculo 11 do evangelho segundo João, vemos uma passagem bonita e inspiradora que não aparece em nenhum original deste evangelho. Nem nos melhores manuscritos gregos ou mesmo na versão semita deste evangelho consta tal passagem.

Na nota de rodapé da biblia de Jerusalém diz:
   "Esta perícope omitida nos mais antigos documentos (manuscritos, versões e padres da igreja) colocada alhures por outros, deixa transparecer o estilo sinótco e não pode ser de João. Poderia ser atribuida a lucas (cf Lc21+38).Sua canonicidade e seu valor histórico, no entanto, não sofrem contestação."


Na biblia de estudos de Genebra diz:
   "Estes versiculos não ocorrem na maioria dos melhores manuscritos gregos desse evangelho. Os manuscritos antigos em que esses versiculos ocorrem o colocam em lugares diferentes (aqui; após 7,36; após 21,25; após lucas 21,38; e após lucas 24,53). A partir de 7,53 e 8,1, fica claro que a localização dessa narrativa não é original, pois Jesus não estava presente na reunião descrita em 7,45-52. Essa evidência sugere que esses versiculos não faziam parte do original deste evangelho, mas que provavelmente tem origem apostolica e reproduzem um incidente que, de fato, aconteceu durante o ministério de Jesus."

Ja a versão peshitta diz:
   "A famosa história da mulher adultera não aparece nos manuscritos da peshitta nem do siríaco antigo. Existem três possiveis teoria para este motivo:
1-Sim, é inspirada
2-Sim, é inspirada mas não pertencia ao evangelho de Yohanan mas sim as boas novas dos Hebreus (como era chamado o evangelho de Mateus)
3--Não, é um acréscimo posterior

1- A primeira teoria foi defendida por Agontinho, bispo de hipona por volta do século III. Segundo Agostinho, homens que eram a favor de punição severa em caso de adultério feminino não viam a história com bons olhos, e se encarregaram de remove-la de diversos manuscritos. Um grande ponto a favor desta teoria é o fato de que a narrativa parece mais fluida quando o texto da mulher adúltera esta presente.

2- A segunda teoria, da qual partilha o autor desta compilação (Shaul bent sion, um dos principais tradutores da peshitta), é a de que a mulher adúltera pertencia na realidade ao livro de Matitiyahu dos nazarenos. Eusébio parece indicar que o Matitiyahu hebraico continha tal narrativa: "Ele (papias) também explicou outra história, sobre uma mulher acusada de muitos pecados perante o senhor, que as boas novas dos hebreus contém" (Hist. Ecl.iii.39.19). Como tal escrito de Papias é do século 2, isto da um forte indicio da orginalidade da história.As duas primeiras  teorias são reforçadas pelo fato de que há alguns relatos histórcos datando dos séculos 2 e 4 que fazem menção da história da mulher adultera, invocando-o inclusive para construir argumentos, o que dá um forte indicio de sua aceitação como texto inspirado.

3- A terceira teoria, defendida por alguns teologos modernos, é a de que se trata apenas de uma adição posterior, uma vez que não figura em nenhum dos manuscritos mais antigos. Complementado:Alguns comentaristas acreditam que esta passagem fora criada na igreja do quarto século para evitar que mulheres fossem apedrejadas. O estilo literario e a critica textual revelam que esta passagem não podem ser de João.

Na passagem em questão, fariseus tentando testar Jesus, lhe trazem uma mulher presa em flagrante em pleno ato de adultério, dizendo que na lei Moisés mandou apredejar tais mulheres. Mas um detalhe interessante, é que na lei de Moisés, se uma mulher fosse pega em flagrante, não era só a mulher que deveria ser apedrejada, mas o homem que com ela adulterou também:


"Também o homem que adulterar com a mulher de outro, havendo adulterado com a mulher do seu próximo, certamente morrerá o adúltero e a adúltera" Lv 20,10

Mas na narrativa vemos apenas a mulher que adulterou sendo apresentada para ser apedrejada. O que contradiz a Torá e mesmo o contexto da passagem, pois se os fariseus, tão observadores da lei como eram, e queriam aproveitar um fato ocorrido para testar o julgamento de Jesus, não cometeriam o erro de violar a própria lei, pois sabiam que poderiam ser acusados por isto.

Na passagem Jesus escreve algo com a mão na areia, que segundo alguns, o mais provavel era que fossem os pecados dos fariseus. Seja como for esta passagem não pode ser considerada nem autêntica e nem uma fraude, mas fica livre a decisão do leitor acredita-la ou não. Mas como base de um estudo apologético, como sobre a anulação das leis de Moisés por Jesus, recomenda-se não utiliza-la, pois não se tem certeza de sua originalidade.

Video de um judeu ortodoxo chamado: "Judeus não acreditam em Jesus, por que? parte 4/7" onde esta passagem é uma das mencionadas: 
Video do youtube Note algumas caracteristicas tipicas do judaismo e da Torá que tornam esta passagem improvavel: Falta o homem que adulterou com a mulher; O julgamento só podia ser feito dentro do templo; Os fariseus não podiam apedrejar ninguém; Não haviam pedras soltas dentro do templo e nem no atrio para apedrejamento; Não havia areia dentro do templo; Dentre outras...
Nos links ao lado estão os originais em grego digitalizados, para quem quiser conferir, não existe esta passagem em nenhum dos manuscritos.

O FINAL DO EVANGELHO DE MARCOS

O evangelho de Marcos, termina abruptamente no capitulo 16,8. A partir do versiculo 9 ao 20 não consta nos originais deste evangelho. O  mais provavel é que devido á seu fim abrupto seu final tenha sido preenchido utilizando-se os outros evangelhos canônicos. 

No rodapé da biblia de Jerusalém diz:
   "O trecho final de marcos (vs 9 ao 20) faz parte das escrituras inspiradas; é tido como canonico. Isto não signifca nescessariamente que foi escrito por marcos. De fato, põe-se em duvida que este trecho pertença a redação do segundo evangelho._As dificuldades começam na tradição manuscrita. Muitos manuscritos entre eles o do Vaticano e o Sanaidico omitem o final atual. Em lugar da conclusão comum, uns manuscritos tem um final mais breve, que da continuidade ao vs 8: "Elas narraram brevemente aos companheiros de Pedro o que lhes tinha sido anunciado. Depois o mesmo Jesus, os encarregou de levar, do oriente ao ocidente, a sagrada e incorruptivel mensagem da salvação eterna". Quatro manuscritos dão em seguida os dois finais, o breve e o longo. Por ultimo, um dos manuscritos que trazem o final longo intercala entre o vs 14 e 15 o seguinte trecho: "E estes alegaram em sua defesa: Este tempo de iniquidade e de incredulidade esta sob o dominio de satanas, que não permite quem esta debaixo do julgo dos espiritos imundos aprenda a verdade e o poder de Deus; revela, pois; desde agora, a tua justiça. Foi o que disseram a Cristo e ele lhes respondeu: O fim do tempo do poder de satanás esta no auge; e entretanto, outros acontecimentos terriveis se aproximam. E eu fui entregue á morte por aqueles que pecaram, a fim de que se convertessem à verdade, e para que não pequem mais, a fim de que recebam a herança da glória de justiça espiritual e icorruptivel que esta no céu...." A tradição patrística dá também testemunho de certa hesitação._ Acrescentamos que, entre o vs 8 e 9, existe, nesta narrativa, solução de continuidade. Além disso é dificl admitir que o segundo evangelho na sua primeira narrativa, terminasse bruscamente no versiculo 8. Donde a suposição que o final primitivo desapareceu por alguma causa por nós desconhecida e de que o atual fecho foi escrito para preencher a lacuna. Contudo, o final que hoje conhecemos era conhecido ja no século II por Taciano e santo Irineu, e teve guarida na imensa maioria dos manuscritos gregos e outros. Se não se pode provar que foi Marcos o seu autor, permanece o fato de que ele constitui, nas palavras de Swete, "Uma autêntica relíquia da primeira geração cristã".

Na biblia de estudos de Genebra diz:
   "Estas palavras não ocorrem em alguns manuscritos antigos importantes. A ausência desta passagem, bem como seu estilo e vocabulario diferentes, levantam sérias duvidas quanto a sua autênticidade. Se os versiculos 9-20 não são originais então o evangelho de Marcos termina com esta frase. Observe, contudo, que a palavra significa "Temor reverencial", e que esta mesma emoção foi produzida nos discipulos quando viram Jesus transfigurado (9,6)_ uma espécie de ressureição antecipada"

Na versão Peshitta diz:
   "A passagem final do evangelho de marcos não aparece no Siríaco Antigo, porém figura na Peshitta. É provável que o final do livro de Marcos tenha sido danificado em alguns dos manuscritos semitas, e tal ausência tenha sido replicada em cópias posteriores, dando origem a duas familias de manuscritos: um com e outra sem o texto em questão. Contudo, há quem alegue que tal final é um acréscimo posterior, visto que também nos manuscritos gregos mais antigos o trecho referido não aparece. O autor desta compilação é da opinião de que o texto é original e inspirado, porém nenhuma das duas teorias pode ser plenamente provada ou desprovada. deixamos a decisão a critério do leitor"

Não podemos afirmar sua canonicidade ou adulteração, mas é notavel certos detalhes peculiares que parecem não coincidir com o pensamento original dos evangelistas ou mesmo com as demais escrituras.O versiculo 16 por exemplo parece uma tipica acentuação da igreja para respaldo litugico:

"Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado"

O batismo nunca fora mencionado por nenhum outro escrito como preceito fundamental para a salvação, como aparece nesta formula de Marcos, "quem crê e for batizado". Vemos em atos que Paulo as vezes convertia gentios, mesmo sem o batismo. O versiculo 11 também não coincide com a narrativa dos outros evangelistas:

"E, ouvindo eles que vivia, e que tinha sido visto por ela, não o creram"

Segundo a narrativa de João, o único apostolo que não creu que Jesus ressussitara foi Tomé. Mesmo na narrativa de Mateus, lemos que "Alguns porém duvidaram" Mt28,17, esses que supostamente duvidaram foi após verem o próprio Jesus e não do testemunho dado por Madalena. Portanto, apesar de seu caráter canonico, este final do evangelho de Marcos não tem nos manuscritos originais e antes de utiliza-lo devemos compara-lo aos outros três para discernirmos o que é autentico ou não.

O FINAL DO EVANGELHO DE JOÃO

O evangelho segundo João termina no capitulo 20, onde no versiculo 31 vemos claramente uma finalização:

   "Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome" Jo20,31

O capitulo 21, não se tem certeza de sua origem, mas pela dialética, escrita e contextualização, nota-se claramente que não foi escrito pelo mesmo autor do restante do evangelho. O capitulo começa com uma nova aparição de Jesus, que parece ser uma glosa composta por trechos de narrativas dos outros evangelhos. No versiculo vinte e quatro vemos uma suposta identificação do autor do evangelho: "Este é o discípulo que testifica destas coisas e as escreveu;" identificação que não aparece em nenhum outro trecho do evangelho onde o autor se identifica na terceira pessoa.

A Biblia de Jerusalém diz:
   "Este relato funde dois episódios primitivamente distintos; uma pesca miraculosa (cf. Lc 5,4-10), que o versiculo 10 se esforça em ligar. Nos vs 1 e 14, o verbo "manifestar", dito de Cristo, é termo técnico herdado das tradições judaicas, para significar a manifestação de Cristo enquanto tal (1,31+; opor o verbo "ser visto" para as aparições de Cristo ressussitado; 20,18+), isso poderia ser indicio de que nas tradições joaninas, a pesca miraculosa estava na origem de acontecimento relativo ao inicio do ministério de Jesus, como em Lucas"


A Biblia de estudos de Genébra diz:
   "É possivel que este capitulo tenha sido acrescentado como um pós escrito pelo mesmo autor do evangelho (isto é, por João), embora haja indicios de que outra pessoa escreveu o vs 24 talvez  o 25"

Pode sim ter sido uma adição posterior do próprio evangelista, mas contradiz com o final apresentado  no capitulo 20,31. Seu caráter sinódito pode ter sido transmitido por tradição apostolica. Recomenda-se ao leitor que analise todos os versiculos e veja a concordância com os demais evangelhos e com as demais escrituras.

Fonte:

https://exegeseoriginal.blogspot.com.br